A ressurreição dos rostos imperiais
A RESSURREIÇÃO DOS ROSTOS IMPERIAIS
Carlos Egert reconstitui com precisão forense os rostos ocultos da monarquia brasileira
Por Raimundo Feitosa | Vitória Régia | Julho de 2025
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Na confluência entre a ciência, a estética e a história, um brasileiro está devolvendo ao Brasil o rosto de seus próprios construtores. Trata-se de Carlos Egert, escritor, jurista, internacionalista e pesquisador multidisciplinar que, longe dos holofotes acadêmicos convencionais, vem surpreendendo especialistas nacionais e estrangeiros com o rigor técnico e a sensibilidade histórica de suas reconstruções faciais ultra realistas de figuras do Brasil Império.
Nesta entrevista exclusiva ao Vitória Régia, Egert nos conduz pelos bastidores de um trabalho que mescla antropologia forense, engenharia simbólica e inteligência artificial, em um projeto que está devolvendo vida — e dignidade imagética — a personagens como o Marquês do Paraná e o Visconde do Rio Branco, até então lembrados apenas por nomes e páginas de livros.
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“A história tem rosto. E rosto tem carne, músculo e silêncio.”
— Carlos Egert
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Vitória Régia: Carlos, como se dá o início do processo? De onde parte a reconstrução?
Carlos Egert:
Começamos sempre pela base antropométrica. Quando há restos mortais disponíveis, seguimos os pontos clássicos do método de Gerasimov: glabela, nasion, zygion, gnathion. Mas, quando não temos o crânio físico — como é o caso de muitas figuras do Império — recorremos a retratos fotográficos frontais de alta nitidez, bustos esculturais e descrições iconográficas.
Com esses dados, iniciamos o que chamo de módulo de aferição proporcional, onde são aplicados cálculos da espessura média dos tecidos moles, adaptados à idade, sexo e ancestralidade da figura histórica. Por exemplo, no caso do Visconde do Rio Branco, utilizamos uma fotografia de 1879 como molde. As proporções interorbitais, a largura zigomática e o contorno mandibular foram medidos e reconstruídos virtualmente com base em parâmetros forenses.
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Vitória Régia: E onde entra a Inteligência Artificial?
Carlos Egert:
A IA entra como última etapa, e nunca como substituta do trabalho anatômico. Uma vez modelada a estrutura facial — com camadas musculares e volume cutâneo —, utilizamos algoritmos avançados para aplicar textura de pele, densidade de pelos, e simular o resultado como se fosse uma fotografia capturada por uma Nikon Z9 com lente 85mm f/1.2, sob luz natural lateral de fim de tarde. A IA respeita a estrutura base: ela não inventa, apenas obedece aos dados forenses e à lógica estética do século XIX.
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Vitória Régia: E quanto aos trajes?
Carlos Egert:
Cada reconstrução exige uma pesquisa iconográfica paralela. No caso do Marquês do Paraná, por exemplo, reproduzimos com fidelidade uma casaca cerimonial com bordados dourados, faixa do Império e insígnias da Ordem de Cristo e da Rosa. Já o Visconde do Rio Branco foi retratado com fraque diplomático, conforme seu retrato por Alberto Henschel. Tecidos, brilhos, dobra das golas — tudo é modelado respeitando o contexto da época e a luz que se espera de um retrato feito em 1879.
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Vitória Régia: Como tem sido a repercussão?
Carlos Egert:
Historiadores e genealogistas têm demonstrado interesse crescente. Mas o que mais me emociona são os jovens que, ao verem essas imagens, comentam: “Esse era o rosto do Brasil antes da República?” Há uma reconexão emocional acontecendo. A história não é apenas crônica: ela é imagem. Quando devolvemos o rosto a uma figura esquecida, devolvemos também sua autoridade simbólica e sua presença política no imaginário nacional.
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Vitória Régia: Você pretende expandir o projeto?
Carlos Egert:
Sim. Estamos preparando a reconstrução de nomes como o Barão de Mauá, o Duque de Caxias, a Princesa Leopoldina, e até figuras eclesiásticas e parlamentares menos conhecidas, mas fundamentais para a arquitetura do Império. O objetivo não é apenas visual: é educacional, identitário e civilizacional.
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Vitória Régia: Por fim, como você define esse trabalho?
Carlos Egert:
É como escutar o silêncio da história e dar-lhe feições humanas. Cada reconstrução é um encontro com o passado, mas também um espelho do que podemos recuperar de nossa grandeza.
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Créditos visuais: Diretório Monárquico do Brasil
Texto: Raimundo Feitosa
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