O papel do parlamentarismo para a democracia brasileira
O discurso político atual tem se tornado uma caricatura quando usa rótulos como “fascista” e “comunista” para desqualificar adversários. O termo fascista passou a ser usado para demonizar a direita, enquanto comunista é empregado para demonizar a esquerda — ambos de forma simplista, esvaziando o sentido histórico e conceitual dessas palavras.
O fascismo, historicamente, refere-se a regimes autoritários, nacionalistas e de partido único, que concentraram o poder e suprimiram liberdades civis. Já o comunismo, em sua concepção original, propõe a abolição da propriedade privada dos meios de produção e a coletivização total da economia. Reduzir qualquer pensamento de direita a fascismo, ou qualquer proposta de esquerda a comunismo, é negar a complexidade das ideias e empobrecer o debate democrático.
As ditaduras, sejam elas de direita ou de esquerda, é que representam a verdadeira ameaça: concentram poder, limitam a liberdade e frequentemente geram dinastias políticas, como ocorreu na Coreia do Norte e em Cuba. Em contraste, a liberdade de expressão, a diversidade cultural e étnica e o pluralismo político são condições imprescindíveis para que uma democracia seja plena.
O parlamentarismo poderia representar um aperfeiçoamento do nosso modelo democrático, pois separa de forma mais clara o governo (que é transitório) do Estado (que é permanente). Assim, os organismos de Estado teriam mais autonomia para fiscalizar o governo, reduzindo interferências políticas e garantindo maior estabilidade institucional.
No campo das ideias, é fundamental reconhecer que cada espectro político possui preocupações legítimas:
A direita tem como foco o equilíbrio das contas públicas, a responsabilidade fiscal e a eficiência administrativa.
A esquerda, por sua vez, volta-se à redução das desigualdades sociais e à promoção da justiça social.
Ambas as perspectivas tratam de questões reais e importantes. A verdadeira solução está em projetos claros, que conciliem estabilidade econômica com inclusão social, e que unam eficiência administrativa a sensibilidade humana.
Curiosamente, as duas maiores economias do mundo ilustram esse equilíbrio:
Os Estados Unidos, país com forte tradição de livre mercado, representam o sucesso de políticas liberais e de valorização da iniciativa privada.
A China, embora governada por um partido comunista, abriga uma economia robusta e tecnologicamente avançada, aberta a grandes empresas globais e ao investimento estrangeiro.
Esses exemplos mostram que o desenvolvimento econômico não depende de um rótulo ideológico, mas da capacidade de gerar riqueza, investir em educação e estimular a produção e o consumo internos.
Em suma, chamar a direita de fascista ou a esquerda de comunista apenas destrói pontes de diálogo e empobrece a política. O verdadeiro inimigo da democracia não é a ideologia, mas o autoritarismo — seja qual for o lado que o pratique. A democracia vive da divergência, da liberdade e da fiscalização. E o parlamentarismo, ao fortalecer a separação entre Estado e governo, pode ser o passo seguinte em direção a um Brasil mais maduro, livre e equilibrado.

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