A república cansada e a promessa silenciosa da monarquia
A REPÚBLICA CANSADA E A PROMESSA SILENCIOSA DA MONARQUIA
Vivemos dias em que o Brasil parece exausto de si mesmo. Há, nos rostos que circulam as ruas e nas vozes que habitam os corredores do poder, um cansaço acumulado, uma fadiga de promessas não cumpridas, reformas inacabadas e discursos que se dissolvem no ar como incenso profano em altar profanado. O modelo republicano que herdamos, embora nascido sob o signo da modernidade e da ruptura com o passado, tornou-se ele próprio um monumento à estagnação e à improvisação. A cada eleição, escolhemos salvadores de ocasião, mas perpetuamos um ciclo de inércia, fragmentação institucional e personalismo camuflado sob siglas partidárias sem alma.
A república presidencialista brasileira, em vez de consagrar a separação dos poderes, tornou-se palco de constantes invasões de competência. O Judiciário, especialmente o Supremo Tribunal Federal, convertido muitas vezes em legislador moral da nação, ultrapassa os limites do seu mister hermenêutico e passa a governar por sentenças. O Parlamento, por sua vez, debate em ruído e não em razão, frequentemente capturado por interesses episódicos e lobbies fragmentados. O Executivo, ora forte demais, ora manietado, oscila entre a paralisia e o abuso. Nenhum poder mais se equilibra; todos se entredevoram.
Não se trata aqui de nostalgia oca ou de desejo pueril de tronos e mantos. O retorno do olhar à monarquia não é um apelo ao passado, mas uma tentativa de reencontrar a ordem dentro do tempo. É um gesto de lucidez institucional. Um soberano constitucional, afastado das paixões eleitorais e isento da necessidade de agradar bancadas ou ideologias, pode oferecer à nação um eixo simbólico de continuidade e unidade. Não governa, não legisla, não julga. Apenas permanece. E essa permanência é o que falta ao Brasil moderno: um ponto de gravidade estável, acima dos sobressaltos do dia.
A monarquia parlamentar, como demonstram democracias maduras, é antes de tudo um dispositivo de equilíbrio e contenção. O monarca não se imiscui nas querelas do Legislativo, não interfere na autonomia do Judiciário, tampouco se lança em campanhas eleitorais como populista coroado. Ele guarda, não age. Sua presença, por mais discreta que seja, impõe respeito e coerência ao tecido institucional. O poder moderador, que outrora tanto se criticou sem a devida compreensão, pode hoje significar um escudo contra o espetáculo degradante da judicialização da política e da politização da justiça.
Não é difícil perceber que o Brasil perdeu o senso da forma política. Deixou de compreender que estabilidade não é imobilismo, e que tradição não é sinônimo de opressão. A figura real, bem estruturada e em harmonia com as instituições representativas, não subtrai a democracia, mas a fortalece. Impede a fusão perigosa entre autoridade e ideologia, entre Estado e partido, entre juiz e militante.
O Brasil precisa recuperar sua memória institucional e sua vocação de grandeza. Talvez tenhamos errado ao pensar que bastaria derrubar a monarquia para nos tornarmos modernos. A verdadeira modernidade, no entanto, reside em criar instituições que resistam ao tempo e ao ego dos homens. E talvez, justamente por isso, seja tempo de relembrar que nem toda tradição é atraso, e que, em certos casos, o futuro se constrói com a sabedoria das formas que um dia já nos deram estabilidade, ética pública e propósito histórico.
Carlos Egert
Presidente-Geral do Diretório Monárquico do Brasil e Colunista do Vitória Imperial
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