A vitória esquecida da monarquia: Quando o Diretório Monárquico forçou a renúncia de Deodoro - Vitória Imperial

A vitória esquecida da monarquia: Quando o Diretório Monárquico forçou a renúncia de Deodoro

 A VITÓRIA ESQUECIDA DA MONARQUIA: QUANDO O DIRETÓRIO MONÁRQUICO FORÇOU A RENÚNCIA DE DEODORO



Pouco mais de um ano após a proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, o Brasil testemunhava uma crise política sem precedentes. À frente do novo regime estava o marechal Deodoro da Fonseca, figura proeminente do movimento militar que depôs o imperador Dom Pedro II. Contudo, o que parecia ser uma vitória duradoura dos republicanos revelou-se instável desde o início. O governo provisório… marcado por medidas autoritárias, como a dissolução arbitrária da Assembleia Constituinte — acumulava descontentamentos civis, militares e regionais.

Foi neste contexto que se consolidou o Diretório Monárquico do Brasil, fundado em 7 de abril de 1890, sob a liderança de Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto. Político experiente, jornalista e advogado, fora o último presidente do Conselho de Ministros do Império. Exilado com a Família Imperial após o golpe, retornou ao Brasil e articulou uma rede de resistência ao novo regime, fundamentada não apenas em princípios históricos e jurídicos, mas em estratégias concretas de articulação política.

O Diretório, embora oficialmente tido como entidade civil e sem força coercitiva, operava como uma espécie de “gabinete à sombra”. Produziu manifestos, cartas circulares e boletins endereçados aos “patriotas legalistas”, nos quais a república era denunciada como “obra de improvisação e arbitrariedade” e a monarquia era apresentada como “instituição orgânica e conciliadora da ordem constitucional”.

Com sede informal no Rio de Janeiro e correspondência ativa com representantes em províncias como Minas Gerais, Bahia, São Paulo e Pernambuco, o Diretório contava com nomes como o conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira, os ex-ministros José Antônio Saraiva e João Alfredo, além da influência simbólica e epistolar de Dom Pedro de Alcântara, herdeiro de Dom Pedro II, e da própria Princesa Isabel. As cartas trocadas entre Ouro Preto e a Princesa no exílio são documentos notáveis e hoje integram parte do acervo da Biblioteca Nacional e do IHGB.
A situação política agravou-se quando, em 3 de novembro de 1891, Deodoro — já investido na presidência constitucional — dissolveu o Congresso Nacional por decreto, desferindo um golpe contra o Legislativo recém-eleito. A justificativa oficial era a de que o Congresso tornara-se “inoperante e obstrucionista”, mas, nos bastidores, era CLARA a tentativa de instaurar um regime presidencialista de força, à semelhança do bonapartismo francês.

A reação foi imediata. Oficiais da Marinha, liderados por Custódio de Melo e Eduardo Wandenkolk, e setores da oposição civil se insurgiram. O Diretório Monárquico intensificou sua atuação clandestina, distribuindo panfletos com trechos de discursos do período imperial, relembrando a estabilidade de Pedro II frente a décadas de alternância ministerial. Ouro Preto redigiu, entre 5 e 15 de novembro de 1891, um conjunto de cartas públicas dirigidas aos parlamentares presos e aos militares da Armada, denunciando o que chamava de “republicanismo ditatorial”. Esses textos circularam discretamente em redações de jornais como O País e Jornal do Comércio, e foram publicados em parte em edições não oficiais de imprensa monarquista em São Paulo e Salvador.

Sob a pressão da Marinha e de setores civis organizados — entre os quais se encontravam monarquistas influentes — Deodoro vacilou. Em 23 de novembro de 1891, redigiu uma carta de renúncia lacônica, alegando problemas de saúde e falta de apoio político. Foi substituído por Floriano Peixoto, seu vice-presidente, cuja condução mais rígida à frente do Exército impediu o avanço imediato dos restauradores. Ainda assim, o episódio representou uma clara demonstração de que os monarquistas não estavam alheios à política nacional.

Segundo registros do próprio Afonso Celso, publicados posteriormente em seu livro Do Imperio à República (1910), a renúncia de Deodoro foi “vitória moral dos que, sem recorrer à força, resistiram com a palavra, com a pena e com a memória institucional do Império”. O próprio Dom Pedro de Alcântara, em carta datada de 26 de novembro de 1891, enviada de Cannes, escreveu a Ouro Preto: “Soube da renúncia pela manhã e agradeci à Providência. O povo começa a recordar que eramos, ao menos, um país coerente”.

Entre as curiosidades que cercam essa articulação está o fato de que o Diretório mantinha correspondência cifrada com simpatizantes dentro do Exército, inclusive alguns remanescentes da Guarda Imperial. Relatos dão conta de que o documento que comunicava a renúncia de Deodoro foi copiado à mão por um tipógrafo monarquista e distribuído com selo do Diretório nas ruas do Rio no dia seguinte, acompanhado de uma fita negra com a inscrição: “Pelo Regresso da Ordem Constitucional”.

A influência do Diretório Monárquico não cessou com a QUEDA de Deodoro. Ele continuou ativo até 1893, ano da Revolta da Armada, quando parte da Marinha se insurgiu novamente, desta vez contra Floriano, em defesa da Constituição. Muitos dos panfletos e pronunciamentos da época, inclusive os que circularam em navios da Armada, citavam expressamente passagens do Manual do Monarquista, de Couto de Magalhães, e de manifestos do Diretório.

Embora a restauração da monarquia não tenha ocorrido, a renúncia de Deodoro revelou a capacidade de mobilização e articulação política dos monarquistas mesmo em um contexto adverso. Mais do que nostalgia, houve estratégia. Mais do que saudosismo, houve ação. A “vitória invisível” da monarquia no coração da República permanece como um episódio velado, mas fundamental, para se compreender a complexidade das forças políticas que moldaram o Brasil pós-Império.

Hoje, mais de 130 anos depois, os documentos do Diretório Monárquico, os manifestos de Ouro Preto e as cartas da Família Imperial não apenas RESISTEM ao tempo como iluminam uma verdade frequentemente silenciada: a República nasceu frágil e dividida, e foi por MUITO POUCO que a Coroa não voltou a brilhar no Brasil.

POR: Carlos Egert
Chefe Adjunto do Instituto Monárquico Brasileiro.

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