Quando quase restauramos a monarquia - Vitória Imperial

Quando quase restauramos a monarquia

 COLUNA IMPERIAL: QUANDO QUASE RESTAURAMOS A MONARQUIA


Na alvorada da década de 1960, o Brasil mergulhava em um dos períodos mais turbulentos de sua história republicana.

Crises políticas sucessivas, instabilidade econômica, radicalização ideológica e uma crescente tensão entre os poderes da república criavam um ambiente de incerteza e medo. A democracia brasileira cambaleava, como sempre. Nas Forças Armadas, inquietações cresciam. E, entre os bastidores do poder, uma ideia antiga, quase esquecida, ressurgia com força entre oficiais de alta patente: a restauração da monarquia.

Mais de sete décadas após o golpe republicano, a imagem do período imperial ainda exercia fascínio em setores importantes da sociedade, especialmente entre militares conservadores, juristas, católicos e intelectuais que viam no Império do Brasil um tempo de ordem, honra e estabilidade institucional. A memória de D. Pedro II, do respeito à Constituição de 1824 e da ausência de golpes de Estado servia como contraste direto à desordem da república nascente.

À medida que a crise política se aprofundava e a possibilidade de intervenção militar ganhava corpo, um grupo de oficiais monarquistas procurou discretamente a Casa Imperial do Brasil. O objetivo era claro: consultar D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial, sobre sua disposição em reassumir o trono caso houvesse uma restauração institucional.
Não se tratava de uma proposta simbólica ou meramente romântica. Para esses militares, a monarquia poderia ser uma solução legítima, legal e histórica para salvar o país do caos político. A volta do trono, pensavam, evitaria a ruptura total com a democracia e ofereceria ao povo uma liderança unificadora acima das disputas partidárias.

Ao receber a proposta, D. Pedro Henrique demonstrou a nobreza que sempre guiou sua conduta. Recusou-se terminantemente a assumir o trono por meio de um golpe ou imposição militar. Para ele, a restauração da monarquia deveria ocorrer somente por meios legítimos, com respaldo jurídico e apoio popular inequívoco, nunca pela força.
Era um gesto de coerência histórica. Seu avô, o Conde d’Eu, e seu bisavô, D. Pedro II, sempre defenderam o império como guardião das liberdades civis e da legalidade. Assim, a Casa Imperial manteve-se à margem do golpe de 1964, mantendo-se fiel ao princípio de que a monarquia só pode servir ao Brasil com a vontade livre e soberana de seu povo.

A história não se escreve com suposições, mas é inevitável pensar: e se a monarquia tivesse sido restaurada? O Brasil teria tomado outro rumo? Teria evitado os 21 anos de regime militar, as perseguições políticas e a ruptura constitucional?
Não há como saber com certeza. Mas é fato que a restauração monárquica foi uma possibilidade real, discutida entre os quartéis e os corredores do poder, mas abortada pela integridade de um príncipe que recusou o trono para não trair os valores que ele representava.

Hoje, mais de meio século depois, quando tantos brasileiros voltam os olhos à história em busca de um caminho de equilíbrio, unidade e legitimidade, a figura de D. Pedro Henrique e sua recusa ética ganham novo significado.

Pois nem toda grandeza está em conquistar o poder, às vezes, a verdadeira grandeza está em recusá-lo, para não ferir a justiça.

POR: Patrick Santos
Editor-Chefe do Instituto Monárquico Brasileiro
Colunista do Vitória Imperial

Nenhum comentário

Tecnologia do Blogger.