RETRATO DE UM PRÍNCIPE CRISTÃO
No imaginário popular, a figura do Príncipe se apresenta de diversas maneiras. Nenhuma, porém, tão elevada quanto a do Príncipe Cristão.
Na Idade Média, quando a sociedade estava direcionada a Deus, os Monarcas tomavam por modelo os Reis do Antigo Testamento: Salomão, Ezequias, Josias e, de modo particular, Davi. Assim como nas Sagradas Escrituras, eram ungidos e tinham consciência de que o seu poder vinha de Deus, a Quem deveriam prestar contas de seu reinado. Estava posto o ideal do Soberano virtuoso, de quem se esperava justiça, sabedoria, prudência, misericórdia, humildade e piedade, dentre outras virtudes. Era o modelo moral a ser admirado e seguido pelos súditos. A ele cabia ouvir as demandas de seu povo, protegê-lo e conduzi-lo, bem como defender a Santa Igreja e contribuir para a maior honra e glória de Nosso Senhor. Que época abençoada e frutuosa! Quantos Reis Santos! São Wladimir, da Rússia, Santo Estevão e São Ladislau I, Reis da Hungria, Santo Henrique II, Imperador do Sacro Império, São Fernando III, Rei de Leão e Castela, e, claro, São Luís IX, Rei de França. E de Rainhas, como Santa Isabel de Portugal e Santa Isabel da Hungria.
Os nomes desses Santos atravessaram os séculos e seus exemplos continuaram a inspirar a educação de gerações de jovens Príncipes católicos. Certamente influíram na formação dos Príncipes da Casa Imperial do Brasil, que, através do Conde d’Eu, descendem diretamente do grande Rei-Cruzado São Luís IX.
Inspirado pelas elevadas virtudes da Fé Católica e pela biografia desses Santos Reis, podemos contar no número dos Príncipes genuinamente cristãos o Príncipe Imperial do Brasil, D. Bertrand de Orleans e Bragança, que no dia 2 de fevereiro próximo passado completou seus 80 anos de vida. D. Bertrand nasceu em 1941, em Mandelieu-la-Napoule, na França, a Filha Primogênita da Santa Igreja. Na data de seu natalício, comemora-se a Purificação da Santíssima Virgem.
O terceiro filho do Príncipe D. Pedro Henrique de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil de 1921 a 1981, e de sua esposa, a Princesa D. Maria da Baviera, recebeu na pia batismal o nome de Bertrand Maria José Pio Januário Miguel Gabriel Rafael Gonzaga. Assim é a tradição de nossa Família Imperial. Bertrand, o seu nome próprio. Maria e José, em honra à Santíssima Virgem e a São José. Pio, em homenagem à sua madrinha e tia paterna, a Princesa D. Pia Maria de Orleans e Bragança, Condessa René de Nicolaÿ, mas também, pode-se dizer, à sua avó, a Princesa Imperial Viúva do Brasil, D. Maria Pia de Bourbon-Sicílias, e ao gloriosamente reinante Papa Pio XII. Januário, pelo seu padrinho e tio-avô, o Príncipe D. Januário de Bourbon-Sicílias, e também ao Santo Bispo de Benevento, muito venerado na Itália. Miguel, Gabriel e Rafael, em devoção aos Santos Arcanjos. Gonzaga, por São Luís Gonzaga, o jovem seminarista jesuíta de origem nobre italiana, padroeiro da Casa de Bragança.
D. Bertrand passou os primeiros anos de sua infância na França, vivenciando as agruras e aflições da Segunda Guerra Mundial. Finalmente, em 1945, a Família Imperial pôde retornar ao Brasil, esta terra que tanto amava, mesmo que de longe, e à qual era chamada a servir. Assim como seus irmãos, teve a oportunidade de crescer no interior, vivendo em uma fazenda tipicamente brasileira, e tomando contato com a realidade da vida no campo como tantos brasileiros da época. Afastado do esplendor palaciano, que certamente seria mais adequado a um Príncipe, aprendeu sobre a vida e sobre o Brasil autêntico algo que não estaria tão facilmente ao seu alcance, caso tivesse nascido e crescido numa Corte.
O dia-a-dia do campo foi uma escola de vida cujos ensinamentos repercutem até hoje em sua personalidade tão marcante.
A principal preocupação de D. Pedro Henrique e D. Maria foi sempre a de transmitir aos filhos a Fé Católica, uma boa educação e a consciência da missão histórica da Família Imperial. Como adolescente, seguindo os passos de seu irmão mais velho, D. Bertrand passou a frequentar as Semanas de Estudo da revista “Catolicismo”, do eminente pensador e homem de ação católico e monarquista Plinio Corrêa de Oliveira, o que foi fundamental em sua formação religiosa e intelectual. Com o tempo, passou a participar ativamente do grupo de jovens que, sob a inspiração do eminente pensador paulista, veio a constituir a TFP, e que hoje continuam a sua ação contra-revolucionária com o Instituto Plinio Corrêa de Oliveira, ciente da missão de que a realeza é chamada a estar sempre na linha de frente da defesa de seu povo.
Enquanto crescia a ameaça comunista em meio à sociedade durante a chamada Guerra Fria, D. Bertrand se posicionou de maneira firme contra aquela ideologia despótica e anticristã. Estudante da tradicional Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (Universidade de São Paulo), participava de intensos debates políticos na defesa dos valores católicos e, naturalmente, em categórica oposição ao comunismo.
Quando, em 1981, seu irmão mais velho, o Príncipe D. Luiz, ascendeu à Chefia da Casa Imperial, D. Bertrand assumiu a posição de Príncipe Imperial do Brasil, recebendo-a com senso de dever e tendo, desde então, mostrado incansável dedicação aos ideais da Monarquia e lealdade inquestionável ao Chefe da Casa Imperial. Especialmente durante a campanha do Plebiscito de 1993 e, sobretudo, nos anos que se seguiram, o Príncipe Imperial se revela em ação constante em favor do ideal monárquico. Ao longo de seus 80 anos, sua vida tem sido marcada pela coerência de princípios e firmeza na luta em defesa da Civilização Cristã, como convém a um verdadeiro Príncipe cristão.
Brasileiros, demos graças a Deus por ter como Príncipe Imperial a pessoa de D. Bertrand de Orleans e Bragança! Que, com as bênçãos de Deus Nosso Senhor e sob a proteção da Santíssima Virgem, Sua Alteza tenha vida longa e possa continuar a servir ao Brasil com sua dedicação e bom exemplo!
* Advogado e voluntário da Pró Monarquia. Artigo publicado originalmente na edição nº 64 do boletim “Herdeiros do Porvir”, de janeiro, fevereiro e março de 2021.
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