A Espanha atualmente é uma democracia organizada sob a forma de um governo parlamentar em uma monarquia constitucional. Para entendermos como se deu esse processo de restauração da Monarquia Parlamentarista na Espanha em 1975 se faz necessário rever alguns pontos históricos que trouxeram de volta o regime monárquico.
Por Adriana Magaldi
Rei juan carlo no dia da abdicação
Rei Juan Carlo e Rainha Sofia no dia da Abdicação do Trono em favor de seu herdeiro o Princípe Felipe de Bourbon.
A Espanha surge com a unificação de vários reinos independentes, mas que era governado pela mesma monarquia. Mas foi Amadeu I em 1870 o primeiro que oficialmente utiliza a denominação de Rei da Espanha e governou sobre uma monarquia constitucional. Mas devido à instabilidade dos políticos espanhóis, às conspirações republicanas, aos movimentos carlistas, abdica por iniciativa própria em 11 de fevereiro de 1873.
A Primeira República Espanhola foi o regime político sobe a forma de República Presidencialista no século XIX que duraram 22 meses e regeu a Espanha desde a sua proclamação pelas Cortes, a 11 de fevereiro de 1873, até 29 de dezembro de 1874.
Quatro presidentes se sucederam nos primeiros onze meses até que o general Pavia liderou um golpe de estado que colocou na presidência Francisco Serrano Dominguez, tendo a República assumido um carácter unitário, caracterizada pela profunda instabilidade política, social, violenta e que desembocaria, anos mais tarde, numa espantosa guerra civil, quando o pronunciamento do general Martínez Campos deu começo à Restauração da monarquia bourbônica.
monarquia espanhola 2
Os problemas mais graves para a consolidação do regime republicano foram a falta de verdadeiros republicanos, a divisão destes entre federalistas e unitários, falta de apoio popular e a organizada oposição dos conservadores ou monárquicos.
Sobe o reinado de Afonso XIII que foi proclamado rei na altura do seu nascimento e sua mãe passa a regente durante o período de sua menoridade, que ocorreu em 1902, ao completar 16 anos, foi declarado maior de idade e assumiu as funções de chefe de Estado isto trouxe grande instabilidade à Espanha, pois foi no período regencial que a Espanha perdeu o restante de suas colônias o que levou a Espanha a uma grande instabilidade sofrendo numerosas revoltas sociais, que levaram o capitão Miguel Primo de Rivera organizasse um golpe de estado em 13 de setembro de 1923, protegido pelo próprio Afonso XIII.
Começaram então a surgir manifestações contra a monarquia que protegeu o ditador Rivera. Foi assim que os partidos políticos espanhóis se uniram contra o rei e este acabou renunciado à chefia do Estado, mas sem abdicar formalmente.
Estabeleceu-se então uma ditadura conhecida como A Ditadura de Primo de Rivera, período da história espanhola que vai desde o golpe de Estado do capitão-general Miguel Primo de Rivera, em 13 de setembro de 1923, até 28 de janeiro de 1930, quando da sua substituição pela chamada Dictablanda, do general Dámaso Berenguer.
Depois do fracasso da Dictablanda, Alfonso XIII tentou devolver o debilitado regime monárquico à senda constitucional e parlamentar, convocando eleições municipais para 12 de abril de 1931.
rei_juan_carlos_da_espanha abdica do trono em favor do filho
A Segunda República Espanhola foi regime político, no período conhecido como entre guerras sobe a forma de República parlamentar,  a proclamação se deu em 14 de abril de 1931 na sequência da vitória republicana nas eleições municipais, em 41 das 50 capitais de província preferiram a República, eleições essas que ocorrem em meio a uma atmosfera de grande violência e teve como primeiro presidente Niceto Alcalá-Zamora. Dois dias depois, O rei Alfonso XIII entra em pânico com as massas de revoltosos e deixa o país sem, contudo, abdicar do poder.
O comandante da Guarda Civil, general José Sanjurjo, convida os dirigentes republicanos que eram formados por socialistas, comunistas e anarquistas a proclamar a República e pôs fim à Constituição de 1876.
A vitória de uma aliança de esquerda precipitou o fim da monarquia e a implantação da República.
Em meios a disputa pelo poder, reformas fracassadas, massacres de trabalhadores agrícolas e corrupção leva o país a uma guerra civil.
Em 1936, as forças da Frente Popular (socialistas, anarquistas, comunistas, liberais e nacionalistas) voltaram a enfrentar o partido da Falange (empresários, latifundiários, igreja, militares, classes médias) nas eleições que fora vencidas novamente pela esquerda.
O general Francisco Franco não aceitou o resultado das eleições e, com o apoio da Falange, mobilizou as tropas para impedir o estabelecimento do novo governo. A Frente Popular reagiu, e o conflito evoluiu para uma guerra civil, da Falange em 1939 e o estabelecimento de uma ditadura fascista que se prolongou até a morte de Franco, em 1975.
sala da coroa em Madri
Vários jornais no Brasil davam destaque ao que acontecia na Espanha e relatavam todos os acontecimentos a qual levaria a restauração da Monarquia na Espanha. Abaixo estão alguns desses jornais.
*O jornal A Noite do Rio de Janeiro do dia 03 de janeiro de 1940, trás a manchete “Estaria Iminente a Restauração da Monarquia Espanhola” dizendo que segundo se propalava nos círculos aristocráticos a restauração da monarquia espanhola era questão de semanas ou talvez de dias. Dizia também que os falangistas, que se insurgiu contra a possível restauração, foram destituídos pelo general Francisco Franco das posições de governo e que o ex-rei Affonso XIII, pessoas de sua família e séquito partiram para Roma, há quinze dias mais ou menos e mantinha contato diário com personalidades diplomáticas e católicas.
Segundo os mesmo rumores, não seria o ex-rei quem ocuparia o trono da Espanha e sim o seu terceiro filho. [1]
*Em 1941, continua a circular nos jornais da época de todo o mundo, a notícia da possibilidade de restauração da Monarquia Espanhola.
*Jornal do Brasil, 14 de Fevereiro de 1941, trás a matéria “Afonso XIII abdicou em favor do príncipe D. João”.
A atitude do ex-monarca facilitará a restauração do trono e a solução do problema interno da Espanha. E traz um documento em que o ex-rei Afonso XIII escreve ao povo espanhol manifestando a decisão de afastar-se da Espanha, suspendendo deliberadamente o exercício do poder real, sem renunciar por isso a qualquer dos direitos políticos de que a história me havia feito depositário e guardião”. Datado de 14 de abril. [2].
*Em 1 de março de 1941 o Jornal do Brasil anuncia a morte do ex-rei da Espanha Afonso XIII falecido no dia 28 de fevereiro de 1941 em Roma na Itália. O Jornal trás uma vasta matéria sobre o monarca falecido; [3].
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*Segundo o jornal Diário de Pernambuco de 19 de fevereiro de 1941, A designação do infante D. Juan de Bourbon como pretendente ao trono da Espanha pareceu satisfazer tanto aos Carlistas (designação um movimento político legitimista de caráter antiliberal e antirrevolucionário que pretendia o estabelecimento de um ramo alternativo da dinastia dos Bourbons ao trono espanhol, e que em suas origens propunha a volta ao Antigo Regime.) como os afonsistas (Partidário de Afonso XII, em Espanha), isso afastaria a Espanha de se aliar ao eixo na segunda guerra mundial.
Na ocasião tanto a direta quando a esquerda entendeu que a restauração da monarquia seria um bem maior para a nação. [4]
*Em 16 de julho de 1942 o jornal A noite do Rio de Janeiro noticia que “Talvez amanhã”, jornalistas espanhóis consideram que muito breve, talvez amanhã, o general Franco anuncie a restauração da monarquia na Espanha e a instalação no trono do infante D. Juan Carlos de Bourbon. [5]
*Em 1942 o General Francisco Franco anuncia a restauração da Monarquia na Espanha e permite que dom Juan de Bourbon, o filho do destronado rei Afonso XIII, mudasse para o Palácio Real de Madri, acrescentando sutilmente que “esse ato no momento oportuno seria seguido pela entronização do primeiro rei da dinastia legítima”.
*Na edição do dia 29 de maio de 1947 do Jornal do Brasil lança a Matéria “Um Estado eminentemente social e humano” Prometeu o general Franco em discurso ao povo Espanhol.
Barcelona, 28 – O generalíssimo Franco pronunciou hoje o mais importante discurso dirigido, nestes últimos dias, aos trabalhadores espanhóis e prometeu às massas um “Estado eminentemente social e humano”,
Deu sua palavra de militar em fiança a que a promessa será cumprida e a que sua nova politica inclui, direitos sociais que serão em breve codificados, Afirmou que a Espanha tem dez anos de vantagem sobre o resto do mundo porque” sofremos antes e aprendemos mais diretamente”, acrescentando que a Espanha aspira manter-se á frente do mundo em legislação social.
Disse o caudilho espanhol de maneira categórica, que “A luta de classes, destruidora do progresso econômico, foi abolida para sempre” e atribuiu a culpa pelos males econômicos da Espanha” ao abandono dos últimos cinquenta anos”. Este período inclui os reinados de Afonso XII, Afonso XIII, a ditadura militar de Primo da Rivera e a República. [6]
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*Em 1948 o Jornal Diário de Pernambuco do dia 10 novembro anuncia a chegada a Madri (9) do príncipe Juan Carlos de Bourbon e Parma, filho do príncipe Dom Juan, pretendente ao trono da Espanha, Afirma-se que o príncipe Juan Carlos será um dia o rei da Espanha em virtude de um acordo entre o pai, o príncipe Dom Juan, e o generalíssimo Franco. O filho do pretendente ao trono da Espanha, Juan Carlos de 10 anos de idade, foi retirado, em sigilo, do trem em que se dirigia para esta capital, aonde vem estudar, sendo levado de automóvel para sua nova residência. Essa medida teve por objetivo evitar que o mesmo fosse alvo de manifestações por ocasião de sua chegada aqui. A censura proibiu rigorosamente que a imprensa noticiasse a chegada do príncipe. [7]

*Em 1955 o jornal Alteroso de Minas Gerais publica uma matéria em 1 de maio intitulada de “Da Ditadura à Monarquia” onde aborda a trajetória da Espanha e plano do general Francisco Franco que levaria Juan Carlos de Bourbon ao trono da Espanha e a restauração da Monarquia. [8]

*Cuiabá, 27 de agosto de 1975 o Jornal O Estado do Mato Grosso anuncia que em Madrid, os rumores sobre a renuncia do chefe de estado espanhol, Francisco Franco, nos próximos meses, foram novamente desmentidos ontem, através da imprensa, pelo ministro de informação e turismo, Leon Herrera. Em declaração formulada a agência local, Herrera desmentiu esses boatos, “que provocaram inquietação nos setores importantes da opinião pública e que indicaram falta de respeito para com as personalidades implicadas” Os boatos assinaram que imite sucessão em favor do herdeiro designado, de Franco. O príncipe Juan Carlos de Bourbon. [9]
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*No mesmo Jornal O Estado do Mato Grosso (MT) do dia 24 de outubro de 1975. Divulga a notícia da piora do estado de saúde de Franco com a manchete em primeira capa “Franco Piora: Juan Carlos já Teria Assumido”.
Madrid, urgente – As últimas informações divulgadas ontem à noite, apesar do grande silêncio existente a respeito, dão a entender que o príncipe Juan Carlos Bourbon assumiu na prática o poder na Espanha, considerando-se o gravíssimo estado de saúde do general Francisco Franco. Estas informações acrescentavam que o centro do poder já não estava no palácio do Pardo, onde o generalíssimo permanece acamado em péssimas condições de saúde, e sim na residência do príncipe Juan Carlo de Bourbon, o Palácio de Zarzuela. [10]
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*Em 21 de novembro de 1975 o jornal Estado de Mato Grosso dá destaque em manchete em primeira capa “Morte de Francisco Franco repercute na Europa”
Madrid – A morte, na madrugada de ontem, do generalíssimo Francisco Franco, provocou condolências oficiais, ligadas a esperança de uma liberalização futura do regime espanhol.
Dá destaque também ao príncipe Juan Carlos dizendo que as atenções estão se voltando menos para o que o príncipe Juan Carlos quer fazer e mais para o que ele pode fazer. Destaca também quem seria o novo herdeiro da coroa Espanhola, o Infante Felipe, único filho varão de Juan Carlos da Espanha e Sofia da Grécia com sete anos de idade. E explica que pelas linhas de sucessão espanhola, em caso de trono vago, antes que Felipe cumpra 30 anos, um regente exerceria o poder até essa idade. Salienta ainda que Franco morreu no mesmo dia e hora em que há 39 anos José Antônio Primo Rivera, fundador da Falange, era fuzilado na prisão de Alicante. [11]
*A proclamação de Juan Carlos como primeiro Rei da Espanha foi anunciado no Brasil por vários jornais como fez mais uma vez o Jornal O Estado de Mato Grosso em 23 de novembro de 1975 com matéria mais uma vez de primeira capa – “Juan, Foi proclamado Primeiro Rei da Espanha”.
O Título da Matéria se deve ao fato que o príncipe Juan Carlos de Bourbon se converteu em Madri, no primeiro rei constitucional da monarquia instaurada pelo general Francisco Franco. A instituição monárquica havia cessado na Espanha em 1931, com a fura de Afonso XIII.
A proclamação de Juan Carlos Primeiro foi feita pelas Cortes (Parlamento Espanhol) e pelo Conselho do Reino. Onde milhares de madrilenos gritam “viva o rei” enquanto Juan Carlos de Bourbon se dispunha a entrar na corte de onde sairia meia hora depois rei da Espanha. [12]
palácio real de madri
Podemos notar que vários anos se passaram até a Espanha consolidasse novamente uma monarquia parlamentar, foi um processo longo e doloroso para a população espanhola, mas como disse o Generalíssimo Francisco Franco em seu discurso ao povo espanhol eles aprenderam com os erros e com a dor, mas conseguiu atravessar todas as tormentas políticas a qual muitos países, inclusive o Brasil está atravessado atualmente. Infelizmente nenhuma nação se consolidou ou se desenvolveu sem deixar rastro de sofrimento e dor.
O importante nessa trajetória é estudar os caminhos por onde outros países trilharam e observar suas falhas e tentar no mínimo contorná-las. Mas uma coisa é certa, se não olharmos para nosso passado e aprender com os erros que comentamos, estaremos fadados a repeti-los. Uma nação sem passado terá um presente difícil e um futuro incerto.

Fontes desta matéria:
ImpérioNews