Dom Pedro II – o que a escola não ensina
Detalhes inéditos da vida do 'último imperador do Novo Mundo' e os bastidores da queda do império estão em novo livro do historiador Paulo Rezzutti, biógrafo da família imperial
Culto, viajado, discreto e apaixonado pelo país. Quem se debruça sobre as biografias de Dom Pedro II, o último imperador do Brasil, deposto pela revolução republicana de 1889, invariavelmente se esbarra nessas características. A história amplamente conhecida do primeiro príncipe nascido em terras brasileiras é marcada por uma coroação precoce, aos 14 anos de idade, muitas viagens pelo mundo e eventos históricos como a Guerra do Paraguai e a abolição da escravatura – tudo isso devidamente registrado em seus fartos escritos.
O que pouca gente conhece, entretanto, é o Pedro por trás de seus diários – do menino apaixonado por sorvete ao imperador que confessava às amantes que estava exausto do fardo da coroa –, bem como os bastidores do golpe que baniu a família imperial do Brasil. Em sua nova obra Dom Pedro II: a história não contada (Editora Leya, 576 p., 69,90 reais), o historiador Paulo Rezzutti, autor de biografias de Dom Pedro I e da princesa Leopoldina, traça um perfil inédito do herdeiro do proclamador da Independência, com quem o último monarca, garante o autor, se parece mais do que se costuma achar. “A relação entre eles era muito forte, tanto que pai e filho trocaram muitas cartas. Em todas, Dom Pedro I dá recomendações ao filho, mas também ao futuro imperador. Não faltam conselhos políticos, como a exortação constante ao respeito à Constituição”, explica Rezzutti, que considera que, nos tempos modernos, o último imperador estaria insatisfeito com os rumos do país. “Áreas como a ciência e a cultura eram especialmente caras para ele, bem como a preservação do passado. Ele ficava bravo quando ia ao Egito, país que adorava, e via que os monumentos históricos recebiam menos verba que as novas construções”, diz o autor.
O livro, que será lançado nesta sexta-feira, 30, na Bienal do Rio de Janeiro, também traz à tona detalhes pitorescos da infância do monarca, cartas inéditas às amantes (neste aspecto, Pedro II era muito mais comedido do que o pai) e relatos de diversas testemunhas oculares da Proclamação da República e dos últimos dias da família imperial no Brasil. Veja, abaixo, algumas das curiosidades e teste seus conhecimentos sobre a vida de Dom Pedro II.
Gelado demais
Aos 8 anos, Dom Pedro II experimentou no Palácio uma iguaria internacional que acabara de desembarcar no Brasil, em setembro de 1834: “Já tomei sorvete de limão e de baunilha”, escreveria à irmã, Dona Maria II, rainha de Portugal. A sobremesa, segundo o ministro da França no Brasil, não foi bem recebida pelo público logo de cara: “Nos primeiros dias, ninguém o queria; os brasileiros diziam que o gelo queimava”, relataria. Pedro, entretanto, adorou. Segundo relatos orais, sem comprovação documental, o gosto pela sobremesa foi tamanho que teria levado o menino a contrair laringite. O tratamento de raspagem de pus nas amígdalas teria afetado permanentemente as cordas vocais do imperador que, apesar dos quase 2 metros de altura, tinha voz fina.
Cara de um, jeito do outro
Parecido fisicamente com a mãe, Dona Leopoldina, e nutrindo o mesmo interesse que ela pelas artes e ciências, Dom Pedro II, na verdade, recebeu maior influência do pai. Mesmo depois de partir para o exílio, ele trocava cartas com D. Pedro II em que ora falava como pai ora dava conselhos políticos e o ensinava a seguir a Constituição. Depois de assumir o trono, D. Pedro II chega a passar pelos mesmos lugares que o pai no aniversário da presença de D. Pedro I no local e procura conversar com pessoas que o conheceram. Em Portugal, visitou o túmulo do pai diversas vezes. “Após a visita a d. Amélia, d. Pedro dirigiu-se à Igreja de São Vicente de Fora, onde rezou, no Panteão dos Braganças, junto ao túmulo do pai e das duas irmãs, d. Maria II e d. Maria Amélia”.
Grafiteiro internacional
Assim como muitos viajantes, Dom Pedro II tinha a mania de grafitar o próprio nome pelos locais onde passava. No Egito, escreveu o nome nas pedras externas da Pirâmide de Quéops, no sarcófago da mesma pirâmide e em uma ruína próxima de onde ele acampou. Sobre a experiência disse: “Só se faz ideia da altura da grande pirâmide quando se observam os que por ela trepam e vá-se tornando cada vez mais pigmeus”. Além dessa, deixou uma inscrição numa rocha em Imatra, na Finlândia, em 1876.
O monarca democrático
Dom Pedro II não era contra o movimento republicano, a ponto de afirmar em seu diário: “Abdicaria como meu Pai se não me achasse ainda capaz de trabalhar para a evolução natural da república”. Segundo ele, esse era um estágio superior ao império, mas os brasileiros ainda precisavam receber uma educação de base para serem capazes de votar. A simpatia era tamanha que Dom Pedro II chamava republicanos para ocuparem cargos no governo desde que fossem os mais preparados.
Fonte : Veja
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